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Foto: Champaign School of Music, do site chambanamoms.com

Música, educação e cultura

Segunda-feira, 17 jan 2022 às 08h00

Vista e tida principalmente como arte e lazer, a música pode exercer um papel importantíssimo na educação infantil com enormes benefícios para os indivíduos e para toda a sociedade.

Música e educação

Entre os 3 e os 10 anos de idade, a região do cérebro humano responsável pela área musical está mais ativa e, portanto, mais suscetível de ser estimulada pela música. Se a criança receber educação musical nesse período, terá sua sensibilidade artística altamente favorecida e poderá desenvolver grande virtuosismo musical. Além disso, serão estimuladas outras áreas do cérebro.

Por estimular em alto grau os circuitos cerebrais, a música ajuda no raciocínio lógico e matemático, contribui para a compreensão da linguagem, exercita a memória, desenvolve a comunicação e outras habilidades.

De acordo com pesquisas, crianças com alguns meses de aula de piano e canto mostraram melhores resultados na cópia de desenhos geométricos, na percepção espacial e no jogo de quebra-cabeças do que as que não tiveram aulas de música.

Ainda que a criança não receba aula de música formal, ela pode ser estimulada pela música que ouve em casa, na escola e em outros ambientes, e será influenciada de acordo com a qualidade e a variedade da música que ouvir.

Nessa fase, os pais têm a oportunidade de oferecer a seus filhos instrumentos musicais de brinquedo e observar seu comportamento e, quando for o caso, estimular o desenvolvimento de suas potencialidades musicais.

É na infância que começamos a formar nosso repertório e quando se esboçam nossos gostos por determinados gêneros e estilos musicais.

Música e cultura

Quando nascemos, somos totalmente dependentes. Herdamos um ambiente cultural que não escolhemos e do qual jamais conseguiremos nos libertar totalmente. À medida que vamos crescendo, começamos a selecionar, escolher, exercer e viver nossa liberdade.

Ao nos tornarmos livres, passamos a cultivar nossos hábitos, desenvolver nossas habilidades e nosso gosto pelas artes. Podemos fazer isso de modo consciente ou não, isto é, podemos deliberadamente optar pelo cultivo de uma determinada arte que nos atrai porque nos dá prazer ou porque nos enleva o espírito.

Se gostamos de música, é provável que vamos ouvir música com freqüência no rádio, assistir shows ao vivo, pela TV ou pela internet, e quem sabe até nos dedicar ao aprendizado de algum instrumento musical ou ao canto.

Nos últimos anos, vem aumentando o número de profissionais de diversas áreas que escolheram o estudo da música não só como forma de entretenimento, mas também de relaxamento e até de auto-ajuda. E o resultado prático tem sido extremamente positivo.

São empresários, economistas, advogados, médicos, engenheiros, professores e outros profissionais com rotinas diárias atribuladas que os acaba deixando com pouco tempo para eles mesmos e para suas famílias. Para administrar o estresse, resolveram se dedicar à música. E os resultados são animadores.

O estudo de um instrumento musical ou do canto pode aumentar a produtividade no trabalho, além de ajudar nas relações pessoais.

Quando éramos crianças, recebemos de nossos pais e professores uma determinada educação básica, que não escolhemos, mas que em certa medida determinou, por assim dizer, nossos caminhos pela vida afora. Hoje, adultos e livres, podemos escolher o que aprender, como aprender e de que maneira cultivar o que foi aprendido.

Gosto não se discute?

A música é uma arte que pode ser aprendida e cultivada. Se alguém não gosta de determinado gênero musical, é preciso primeiro verificar se ele conhece esse gênero. E, para conhecer um gênero de música mais elaborado, nem sempre é suficiente ouvi-lo só uma ou duas vezes. Há linguagens musicais com sintaxes complexas que só são compreendidas mediante análise, exatamente como acontece com os textos escritos.

Aliás, parece haver um paralelo entre o hábito de ler e o cultivo dos gêneros mais elaborados de música. Com efeito, só pode ter prazer pela leitura quem entende o que lê. E como o hábito de ler vem sendo substituído pela facilidade da comunicação áudio-visual (TV, internet), que requer pouco esforço por parte do espectador, para grande parcela da população a leitura vem caindo em desuso. Lê-se o absolutamente indispensável e cada vez se entende menos o que se lê.

Do mesmo modo, os gêneros de música mais elaborados como o jazz e a bossa nova não são apreciados pela maioria de pessoas simplesmente porque elas não os compreendem. É por isso que a música de Tom Jobim e a de Ray Charles pode não ser apreciada por quem não teve educação musical ou não viveu em ambiente cultural que favorecesse o contato com esses gêneros. Quer dizer: “não aprenderam” a gostar de alguns gêneros de música mais elaborados.

É difícil não gostar

No entanto, qualquer pessoa que não esteja acostumada a ouvir determinada música popular mais sofisticada, ou até mesmo a música erudita ou clássica, pode descobrir a beleza que há nesses gêneros, bastando para isso algum esforço, paciência, além de procurar se livrar de um certo “pré”-conceito comum de quem “não ouviu” e “não gostou”.

É difícil alguém ouvir o violão e a voz de João Gilberto com atenção, por diversas vezes e em silêncio, e não gostar do que ouviu. Mas não é impossível. Há quem conheça o trabalho dele e não goste. Também há quem não goste da pessoa de João Gilberto, porque nem sempre é fácil separar o artista de sua obra, mas isto é outra história.

O que cabe finalmente destacar é que é possível se educar para a música e que a música é uma arte que pode ser cultivada por todos, com enormes benefícios para os indivíduos e para toda a sociedade.

Por Edgar Nascimento

Artigo originalmente publicado em 18/04/2007 no extinto site www.edgarnascimento.mus.

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